segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Miados, grunhidos

Na sexta-feira passada, nós, meu irmão mais novo e eu, ganhamos um casal de gatos. Rainha Amidala e Darth Vader. Hoje, enquanto eu lia deitada na cama, ouvia o miado agudo e persistente da fêmea. Meu coração se apertou na caixa torácica. Sabia bem o que aquele grunhido significava. Ela veio até o meu quarto, subiu na cama, me rodeou e miou mais algumas vezes. Segurei aquela cabecinha minúscula manchada de preto, amarelo e branco, a beijei e disse em sussurro: "Eu também, Rainha. Eu também".

Agora eu olho a gata (até literalmente, porque ela está cochilando em cima do receptor quentinho da Sky na minha mesa de trabalho) e vejo a Naiara menina de oito anos atrás. Eu não mio. Eu não tenho mechas brancas, amarelas e pretas na cabeça. Mas eu me vejo nela. Circundando a casa, meio que à procura, só para constatar de novo que quem queríamos ver não está ali.

A dor nos aproximou. A minha preferência fora traçada.

Amidala sobe na minha cama. Cheira a minha comida. Dorme nas minhas coisas.
E eu permito tudo, mesmo sabendo que essa liberdade pode não ser muito boa. Tenho uma queda pelos sofredores, pelos oprimidos, pelos mal-aventurados. "Aqui no meu quarto você pode tudo, Rainha", penso. 

Que aqui seja um lugarzinho para ela estancar a dor. Que eu seja para ela a irmã que eu nunca tive. Estamos juntas nessa. Conte comigo.

É uma pena ela não entender o que digo... se entendesse, só por pelo menos dois segundinhos, diria sorrindo: "Te adoro!", porque é verdade.





sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

you are pure art



i've been choosing you for a while now
it cost me something, but it's more than ok


ps.: 


nice - art - beloved
i'm yours


domingo, 1 de dezembro de 2013

elefanta

nunca vou me esquecer da sensação que tenho quando te leio.

quente com gelado
borboletas na barriga
fio da nuca arrepiado

essa sensação eu não tenho quando te vejo, quando te toco, quando te beijo.
que bom! se eu a tivesse com essas coisas tão fugazes que hoje estão entre nós
e amanhã só Deus sabe, a teria uma vez para depois não mais, não tanto.

essa sensação eu só tenho quando te leio.
o que isso quer dizer?
que o que você escreve é pungente
é orgânico
é uma vida.

ler você me deixa assim:
suada
nervosa
arrepiada.

é uma coisa que amo e odeio.
posso me esquecer de tudo o que disse,
mas da sensação de te ler nunca vou me esquecer.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Atrasados

Tardei, meu Amor
Meu amor tardou, mas chegou
Tão tarde...

O seu amor
- amor? -
foi
e vai
e vem

E o meu está aqui,
chegou.
Tão tarde...
Chegou.

Tadinho.



segunda-feira, 25 de novembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013

naiara

eu sou maria
eu sou irene

eu sou ana
ana lucia
luci ana

delas o vestido
a costura
o marrom-bombom

o meu amor
a lua
e uma estrela

sendo tão elas
sou até eu

terça-feira, 30 de julho de 2013

Ferreira Gullar tem razão

Meu Deus!
Meu Deus!

Hoje descobri a ti.
Só hoje eu te vi.
Vi o que carrega por dentro.
E vi o que nasceu em mim, por ti.

Meu Deus!
Meu Deus!

domingo, 28 de abril de 2013

Meu vovô Peter Pan


Adilson Rosa de Azevedo é um senhor tranquilo. A voz mansa e o sorriso frouxo denunciam a personalidade de quem gosta do silêncio para meditar e ficar ao ar livre ouvindo o canto dos pássaros. Aos 62 anos de idade parece muito bem consigo mesmo, ao responder com uma firmeza recheada de doçura às perguntas feitas numa tarde fresca de domingo, na mesa do almoço.

Adilson nasceu em 1954, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro. Quem é bom de matemática sabe que os nascidos em 1954 ainda não podem ser sexagenários, mas ele explica: “Quando fui me casar, eu ainda era menor de idade. Lá no cartório eles aumentaram a minha idade e eu não percebi, só fui perceber muitos anos depois". A empolgação de estar se casando era tamanha que nem sequer olhou para a certidão, tudo o que queria era ficar olhando o rosto da noiva, garante ele.

Se no papel é mais velho, na alma ele é mais jovem, e isso é fácil de perceber passando dez minutos ao seu lado. Engraçado, está sempre contando uma piada ou fazendo um trocadilho com o que está sendo dito. “Não gosto de ver ninguém triste”, afirma com um sorriso no rosto. Tanta alegria nunca fora abalada pelas dificuldades que enfrentou na vida. Criado sem pai, Adilson teve uma infância dura, que não tem preocupação em esconder. “Tive que ralar muito para ajudar a minha mãe. Quando meu pai morreu eu tinha 1 ano de idade. E aos 10 anos comecei a trabalhar em casa de família, cuidando de gato e cachorro”.

Aos 18 anos começou a trabalhar como bombeiro hidráulico, e foi com essa profissão que conseguiu criar os filhos e hoje ajuda a criar os netos. Mesmo aposentado optou por continuar trabalhando porque “com o dinheiro da aposentadoria não dá para viver”. Mora em uma casa grande e confortável com a mulher, dona Ana Lúcia, a filha Adriana, divorciada, e mais 3 netos. Agora, com o filho mais velho, Magno, morando na parte de cima da casa com a mulher e o filho mais novo, Adilson vive cercado por 4 dos seus 6 netos. Soa um pouco caótico, mas ele diz que gosta. "É a coisa mais linda do mundo. A gente sente a presença de vida, a alegria, tudo no mesmo lugar”. Difícil de acreditar? Seu bom-humor parece levar tudo numa boa. “Eu adoro. Mesmo quando eles começam a brigar entre si, é saudável”.

Toda família começa com uma história de amor, e para essa regra a família numerosa de Adilson não é exceção. Sentada ao seu lado enquanto conversamos, a esposa Ana abaixa a cabeça, nostalgica ou timidamente, ouvindo o seu amado contar como eles se conheceram, há muitos anos atrás. “Nos conhecemos no dia do aniversário dela, quando ela estava fazendo 15 anos de idade. Eu estava indo para o cinema. Passei pelo portão dela e assim, do nada, ela segurou na minha mão. Aí começamos a conversar, ela me deu um copo de refrigerante, dois pasteis, comi, batemos um papo, e quando eu fui perceber a gente estava se beijando”.
Perder o filme para ganhar uma namorada parece uma boa troca, brinco, mas ele logo corrige: “Não, mas eu fui para o cinema assim mesmo. Peguei a sessão das 10 da noite, eu e um amigo que já é falecido, o Martins". Assistiu ao filme e ganhou uma namorada, melhor ainda. Voltando a falar da sua história de amor, completa: “Ela dizia que já gostava de mim mas eu nunca gostei dela. Fui gostar depois, com o tempo". O tempo exato foi um ano, depois do qual eles logo se casaram e aguardaram a chegada do primeiro filho. O jovem Adilson de 18 anos comemorou a alegria de ser pai de um filho varão. “Foi o maior porre que já tomei na minha vida!”, diz ele.

Além de ter um filho homem, outro sonho da juventude de Adilson era ter um carro sport amarelo. Como sei que na garagem da casa não repousa um carro sport, muito menos amarelo, pergunto se ainda existe esse desejo. “Amarelo não porque é um pouquinho forte para a minha idade. Agora quanto mais discreto melhor. Com um carro sport amarelo, ou de outra cor extravagante, vão dizer que o velho é boiola!", e a cozinha é invadida pela gargalhada gostosa de quem já viveu muito e quer viver ainda mais.

Pouco mais de quarenta anos depois, com 2 filhas acrescentadas à prole, e avô de 6 netos, ele diz não precisar de mais nada. Porém, como se sentir realizado não exclui (e nem deve) a vontade de sonhar, ele carrega um sonho especial em seu peito. “Um dia quero poder passear com a minha velha. Não ter mais aquela preocupação de ter que voltar em casa para fazer comida, consertar alguma coisa que quebrou. Poder sair, passar um fim de semana longe, eu e ela. Viajar, ir para algum lugar bonito, tipo Foz do Iguaçu, ficar olhando para as cataratas, ouvir os cantos dos pássaros. Gosto de silêncio para fazer meditação, ler um pouco. Cinema nem tanto, porque os filmes que passam hoje...”.

Se hoje em dia ele demonstra pouco interesse, na juventude era cinema o seu hobby favorito. “Eu ia muito, adorava. Ás vezes saía de Niterói para ir ao cinema no Rio, eu sozinho. Era só dizer que tava passando um filme bom que eu ia. Até hoje passa esse filme na TV, ‘Peter Pan’. Eu tinha 13 anos quando vi esse filme. Fui ver ali perto da Praça da República, tinha um cinema ali, esqueci o nome dele. Tem muitos anos, acabou já”.

Assim como Peter Pan na Terra do Nunca, sou invadida pela doce convicção de que Adilson, apesar dos muitos quilômetros rodados, rugas no rosto e memória começando a falhar, carrega dentro de si uma criança que não quer (e, de novo, nem deve) crescer. Viva à juventude! Viva ao vovô!

(entrevista feita para a aula de Técnica de Reportagem Jornalística 1, da Escola de Comunicação da UFRJ)


sábado, 27 de abril de 2013

Sobre amores e sazón


Eu tenho uma amiga que diz que eu só sei escrever sobre marido/namorado/amor e afins. Ao me sentar para compor esse post percebi - um tanto desconcertada - que talvez ela tenha razão. (Pare de comemorar, Ana)
Hoje, porém, não vim mostrar a minha faceta romântica mas a minha, vamos chamar assim, visão racional a respeito do amor. Uma dose de realismo de vez em quando não mata ninguém.

Meu status de relacionamento sempre foi o mesmo: solteira, assim desde que nasci. Por mim, tudo bem, mas tenho que dizer que me espanta ver o assombro com que algumas pessoas são acometidas ao me ouvirem dizer tal coisa. Então lhes pergunto: Qual é o problema em não ter tido um namorado na vida? Aliás, qual é o problema em não querer ter um?

Nós, sobretudo as mulheres, somos bombardeados o tempo todo pela mídia que diz que devemos ir em busca do parceiro ideal e assim, ser feliz. Hollywood gasta milhões de dólares todos os anos para produzir filmes que mostram que passar o Valentine's Day sem um par é uma derrota das grandes. E então me preocupo com essa tendência atual de ir atrás de um romance a qualquer custo.

Uma pressa, uma corrida veloz (e feroz!), um desespero para não ser quem vai ficar de pé na dança das cadeiras do amor. Até nisso o século 21 me deixa sem fôlego! Slow down, please!

Além daquela que citei no primeiro parágrafo, tenho outra amiga que quer me casar de qualquer maneira. Rio sempre quando ela vem me mostrar a foto de algum amigo solteirão para saber o que eu acho. "E aí? Ele é bonitinho, não é?". A resposta é sim, sempre é sim (você tem um bom gosto, Carol). "Mas não, obrigada", agradeço, sempre agradeço.

A atitude é simpática, fofinha até, mas mal sabe ela que termina com um tiro no pé uma vez que me faz querer mais ainda permanecer do jeito que estou. O meu post de fevereiro é a prova de que não quero morrer solteira, então se você já assinalou com um 'x' a opção 'Naiara é uma feminista maluca que odeia os homens', pode pegar agora uma borracha para apagá-lo. Se você marcou de caneta, passe liquid-paper, por favor (por favor!).

Não estou querendo dizer que tenho algo contra relacionamentos, muito menos levantando a bandeira da solidão. Tudo o que busco com esse texto é uma humilde reflexão de como as coisas estão se dando hoje em dia, e como não é algo bonito de se ver.

Vocês não acham que passar o tempo em que se está sozinho pensando em como seria caso estivesse acompanhado um grande desperdício? Aproveite o tempo em que se está solteiro para conhecer a si mesmo. Leve você a encontros pela cidade. Descubra 1) seu sabor de sorvete favorito em cada sorveteria da redondeza; 2) se gosta mais de literatura russa ou inglesa, ou nenhuma das duas; 3) seu lugar favorito para assistir ao pôr-do-sol... Enfim, descubra o que te faz feliz e o que não. Acredito que fazendo isso, diminuímos em muito os desgastes que acometem às relação amorosas entre pessoas que conhecem pouco a si mesmas.
"Eu mal conheço os meus limites, mas aqui estão os que eu imponho a você".
"Eu não sei bem o que eu quero da vida, mas sei que quero que você me faça feliz agora, e se possível, o tempo todo".
"Eu nunca descobri se gosto mais dos filmes do Godard ou do Woody Allen, mas bem, agora não vou conseguir descobrir porque estou muito ocupado mandando sms para você a cada 30 minutos".

Tenho certeza que deve ser delicioso aprender muitas coisas em conjunto com quem você ama, mas só depois de passar pelo ciclo básico para curtir coisas novas com você e só você.
Quem não consegue ficar muito tempo sozinho não gosta da companhia de si mesmo.

Estou tão contente aprendendo coisas novas a cada estação que não ouço os cochichos da sociedade me dizendo que todas as minhas amigas estão namorando, menos eu, que já tenho 20 anos e "o momento é agora".

Você, meu futuro namorado, saiba que não estou no vermelho querendo suprir uma carência ao me relacionar com você. Estou tão bem comigo mesma que tudo o que você tem a me oferecer é lucro. E é por isso que vou te amar, porque mesmo amando muito a minha companhia, você acentuará o sabor da vida que já existe, sabor que já experimento todos os dias.

Hmm! Acho que vou ao cinema. Sozinha, é claro - mas só por enquanto.

(Inspirado nas mil e uma conversas com uma terceira amiga, Manu, parafraseada em algumas partes do texto. Dedico esse post a você, fonte de inspiração todo santo dia. I love you)

domingo, 10 de março de 2013

Young, wild and free

Não me sinto mais tão jovem, tampouco selvagem.
E já não sou mais tão livre, como um dia achei que fosse.
Ah, quão bela era a vista quando eu era cega!

Sessenta e nove dias atrás, um novo ano aterrissou e trouxe consigo uma rebeldia jovial conhecida até então só de ouvir falar. Inofensiva, não abalou a mais ninguém além de mim mesma. E nem precisa. O presente foi dado a mim, e assim ele cumpriu o seu papel.

Como um andarilho no deserto cujos lábios rachados imploram por água, a sede pela liberdade atingiu minha gargante e implorou, gritando, para ser saciada. 
Com uma tesoura à mão, cartão de crédito é cortado. Por que aliar-se à bancos que visam lucrar com o endividamento alheio?
Com a ferramenta necessária, Facebook é desativado. Por que manter um perfil que serve como banco de dados para empresas que só querem me coagir a comprar seus produtos?
Com a promessa dita, televisão não fora mais ligada nesse quarto melancólico. Por que ouvir as principais notícias do dia que entardecem minhas manhãs? Principais notícias para quem? Baseadas em quê? Minhas prioridades mudaram, e as redes de TV não me acompanharam nisso.

Dei as costas para o mundo, construí um barco e me pus a navegar sozinha em mar desconhecido. 

Um mês.
Dois meses..
Três meses...

O movimento das ondas que batiam contra a humilde proa começou a produzir um crescente enjoo no meu estômago. Essa viagem deveria ter um fim, trágico para mim ou para você(s). 
Cansada da vida medíocre em terra firme, me recusei a voltar. Exausta com a viagem por águas solitárias, ansiava pelo seu término.

Tal aventura deveria durar pelo menos doze, mas três meses me bastaram para ajustar um Norte na bússola esquecida no bolso, até então vazia de si mesma, que sorriu por finalmente poder cumprir o seu propósito.

Meu Norte, então, fora traçado no meio termo dos dois extremos da loucura. 
Não se pode viver bem com a cegueira da ingenuidade. Triste será, quando a morte chegar, descobrir que nunca viveu, apenas existiu. 
Não se pode viver bem com a solidão pretensiosa, tão cheia de si que afirma não precisar de outro alguém que lhe diga o que fazer de vez em quando. 
E não se pode viver, bem ou mal, sem um Norte estabelecido na sua bússola.

Trace as suas prioridades. Faça o que é importante para você, mas atente também ao que é importante para o mundo à sua volta. Se necessário, use o seu cartão de crédito. Parcele nele uma máquina fotográfica, se ela vier a fazer mais feliz o seu coração. Vez ou outra, consulte o seu perfil do Facebook. Pode haver um amigo antigo, amado mas esquecido em uma prateleira poeirenta, que queira reaparecer na sua vida e construir lembranças novas com você. No quarto ou em qualquer outro lugar, aprenda a passear os olhos pela programação da TV. Julgue sem modéstia o que assistir, guarde o que lhe agrada, jogue fora o que considerar lixo.

Enfrentei a rebeldia juvenil, que chegou de fininho, me chacoalhou, e se foi. Sem ela, sinto-me menos jovem, menos selvagem, menos livre. Porém mais sensata, mais focada, mais real. Pus a bússola na mesa, peguei um cronômetro e disparei. Mais quantos dias até a próxima aventura?

x

(Sim, eu parcelei uma câmera fotográfica no cartão de crédito quebrado, comprando pela internet. Também reativei minha conta no Facebook. E alguns dias assisto TV - muito pouco ainda, mas assisto)