domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cachoeira

Começou a chover.
Ouço os passarinhos. O latir dos cachorros.
Todos os meus sentidos alertas, como se em caça.
O cheiro já conhecido da vela antiga que fora reaberta. 

Uma criança arranca os galhos do Flamboyant.
Uma serra que corta a madeira ao fundo.
Me sinto viva.
Vomitada pela rotina para finalmente parar e perceber o entorno.

"Essa luz fraca e acinzentada é melhor do que o sol."
Estou à espera - e a espera não é o vazio; é algo; é contemplação.
E não estou sozinha. A mulher de vestido vermelho (dois tons abaixo do meu esmalte) contempla também da sua casa roxa encravada na colina à minha frente com suas árvores crescentes lhe atribuindo altura e com suas casas coloridas lhe atribuindo volume.

A chuva apertou.
A mulher se foi.
Só Deus sabe se amanhã continuo a viver ou se serei mumificada pelas coisas a se fazer, pelos lugares a trafegar, pelas conversas banais a serem tidas 
- o quadradinho, domesticado, que me engole (e às vezes vomita).