sexta-feira, 5 de setembro de 2014

EU ODIEI O MEU NOVO CORTE DE CABELO

Ricardo, eu nunca vou esquecer esse nome.
Toda vez que me apresentarem a um Ricardo na vida, Ricardo, vou me lembrar de você.
Eu gosto de você, Ricardo.
Desejo que sua mãe melhore, do fundo do meu coração, porque Deus é aquele que faz milagres.
Se ela partir, desejo que vá em paz, muita paz. Torço por ela, e por você, Ricardo.
Desejo que continue brincalhão e bem-humorado.
Sei que gosta do que faz, apesar de já ter querido ser astronauta e Gari. O meu irmão Arthur já quis ser cabeleireiro como você, eu te disse isso.
Ricardo, eu odiei o corte de cabelo que você me deu. Odiei o corte 15. Odiei, Ricardo. Não era isso o que eu queria.
Ana Luiza me deu um corte de cabelo lindo, e você me deu um corte de cabelo péssimo.
Ninguém nunca na minha vida me deu um corte de cabelo péssimo, Ricardo, nem aquela cabeleireira que deixou o meu cabelo torto por meses. Aquele mau corte pelo menos me divertia, eu ria dele mais do que me preocupava.
Ricardo, que perigo um corte de cabelo ruim a uma menina desmoronando como eu, Ricardo. Não ensinam isso nos cursos? Nem no do Werner? Eles são bons, Ricardo!
Ontem fui dormir chorando, pela insensibilidade do meu pai, e pelo meu corte de cabelo.
Toda vez que me olho no espelho eu me lembro de você. É isso o que os cabeleireiros desejam?
O problema é que eu não digo "Obrigada", sorrindo. Eu sempre digo, quase chorando: "Ricardo, eu odiei o meu corte de cabelo", que é o que eu não tive coragem de te dizer pessoalmente.
Bem, aqui está.
Mas obrigada mesmo assim, ok? As experiências nessa vida são importantes. Sem elas, nem vida há.

terça-feira, 11 de março de 2014

thank you

todos os dias quero ser grata.
hoje, 
por ter visto aquele redemoinhozinho de vento levantando 
as folhas amarelas do chão.
por ter ouvido o "eu mais que gosto de você" de você.
por ter ajudado o meu irmão, e ter sentido orgulho do resultado.
e pelas comidas adoráveis que mastiguei: a laranja, a ameixa, as nozes. 
obrigada por não terem me dado dor de barriga.



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cachoeira

Começou a chover.
Ouço os passarinhos. O latir dos cachorros.
Todos os meus sentidos alertas, como se em caça.
O cheiro já conhecido da vela antiga que fora reaberta. 

Uma criança arranca os galhos do Flamboyant.
Uma serra que corta a madeira ao fundo.
Me sinto viva.
Vomitada pela rotina para finalmente parar e perceber o entorno.

"Essa luz fraca e acinzentada é melhor do que o sol."
Estou à espera - e a espera não é o vazio; é algo; é contemplação.
E não estou sozinha. A mulher de vestido vermelho (dois tons abaixo do meu esmalte) contempla também da sua casa roxa encravada na colina à minha frente com suas árvores crescentes lhe atribuindo altura e com suas casas coloridas lhe atribuindo volume.

A chuva apertou.
A mulher se foi.
Só Deus sabe se amanhã continuo a viver ou se serei mumificada pelas coisas a se fazer, pelos lugares a trafegar, pelas conversas banais a serem tidas 
- o quadradinho, domesticado, que me engole (e às vezes vomita).

domingo, 12 de janeiro de 2014

Nesses dias tristes,
não sei quem sou,
me falta verdade.
Nesses dias tristes,
não amo ninguém
-
nem você,
nem a mim.