Agora eu olho a gata (até literalmente, porque ela está cochilando em cima do receptor quentinho da Sky na minha mesa de trabalho) e vejo a Naiara menina de oito anos atrás. Eu não mio. Eu não tenho mechas brancas, amarelas e pretas na cabeça. Mas eu me vejo nela. Circundando a casa, meio que à procura, só para constatar de novo que quem queríamos ver não está ali.
A dor nos aproximou. A minha preferência fora traçada.
Amidala sobe na minha cama. Cheira a minha comida. Dorme nas minhas coisas.
E eu permito tudo, mesmo sabendo que essa liberdade pode não ser muito boa. Tenho uma queda pelos sofredores, pelos oprimidos, pelos mal-aventurados. "Aqui no meu quarto você pode tudo, Rainha", penso.
Que aqui seja um lugarzinho para ela estancar a dor. Que eu seja para ela a irmã que eu nunca tive. Estamos juntas nessa. Conte comigo.
É uma pena ela não entender o que digo... se entendesse, só por pelo menos dois segundinhos, diria sorrindo: "Te adoro!", porque é verdade.